sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Nelson Rodrigues

e o teatro do desagradável:

um olhar simbólico

sobre a vida e obra do autor

por Cristiana Boavista

Psicóloga
e arte-terapeuta

Introdução

Nelson Rodrigues revolucionou o teatro brasileiro, de tal forma, que chega a ser considerado por muitos, o maior dramaturgo nacional, sendo o autor cujas peças são mais montadas na atualidade.

No entanto, nem sempre foi assim. Suas peças retratavam a classe média carioca com a incrível crueza do cotidiano que conhecia tão bem. Essa forma de linguagem não era bem aceita pela crítica ainda influenciada pelos moldes de um teatro mais eloqüente e poético.

Nelson Rodrigues trazia para os palcos a palavra suada de rua, como dizia. E, enquanto filho do modernismo, se defendia:

“Meus diálogos são realmente pobres. Só eu sei o trabalho que me dá empobrecê-los.” (Castro, org.,1997: 47).

Mas além do estilo coloquial, suas peças tratavam de denunciar toda a hipocrisia que pairava sobre uma sociedade vítima da repressão sexual, revelando toda a perversão e deturpação dessa sexualidade latente.

Por flagrar aspectos da sombra coletiva, a obra de Nelson Rodrigues foi muitas vezes mal compreendida, censurada e suas peças tachadas como pornográficas, corrompedoras da família e dos bons costumes.


Os críticos, chocados, não conseguiam enxergá-las em seus aspectos simbólicos, como arte.

Nelson sempre se utilizou de elementos obscenos em seu teatro catártico onde os personagens acabavam possuídos por seu lado mais primitivo.

“A ficção para ser purificadora precisa ser atroz. O personagem é vil para que não o sejamos. Ele realiza a miséria inconfessa de todos nós”. (id. Ibid.:161).

Através desse trabalho tento fazer uma análise das bases arquetípicas que se relacionam tanto à obra como à própria personalidade do autor afim de compreender o sentido do teatro que propunha enquanto purificador de desejos inconfessos.

A interpretação aqui e a analogia que busquei fazer com diferentes mitos gregos, explicitamente presentes na obra de Nelson, principalmente em Senhora dos Afogados, pretende apenas traçar um esboço de uma personalidade criativa em confronto com questões pessoais que atingem a esfera coletiva.

Tais bases arquetípicas que se relacionam à obra e a personalidade do autor se referem a aspectos patológicos de um homem do seu tempo.


Se pensarmos na etimologia da palavra grega Pathos, paixão, ela parece bem concernente ao homem e dramaturgo que foi.

E aqui vemos a função dos complexos como nos aponta J. Jacoby de “germe criador” cuja função é levar os conteúdos do inconsciente para o consciente e evocar a força criadora deles (1990: 35).
Nas palavras de Nelson:

“Todo grande homem tem que ser obviamente obsessivo. Não sei se me entendem. Mas o ‘grande homem’ é a soma de suas idéias fixas. São elas que o potencializam”. (id. Ibid. 76).

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